domingo, 23 de março de 2014


EU SOU CLÁUDIA SILVA FERREIRA


Arte: Rubens Jr




Hoje eu sou Cláudia Silva Ferreira. Como ontem fui um policial morto, um negro anônimo morto, um homossexual, um índio... Como fui e continuo sendo um Amarildo. Pobres excluídos que continuam a morrer em uma guerra que somente alguns lucram.


Mas hoje, meu discurso não muda. Não vou pedir que torturem os policiais que ceifaram a vida de Cláudia, nem mesmo vou pedir pena de morte àqueles policiais que se utilizam de tortura. Não acredito que diminuir a idade penal dos policiais também resolva(entenda, isso foi uma ironia).

Também não vou dualizar petulantemente dizendo que estou do lado do bem e estes soldados do lado do mal. Pois não acredito e nem vou acreditar que o maniqueísmo possa dar alguma resposta.

Continuo sem pedir mudanças emergenciais e populescas para problemas que são conjecturais e sistêmicos. A morte de Cláudia deve servir para uma reflexão daqueles que encontram na força e opressão a solução para uma sociedade desequilibrada. Os policiais que, abominavelmente, torturaram devem sim responder de maneira constitucional e serem responsabilizados pelo ato. Não deve-se esquecer. Mas punir apenas estes soldados e não enxergar que o problema é bem maior, de nada vai adiantar. Será corroborar com o ato, incentivar que ele continue sempre acontecendo e contra os mesmos despossuídos. 

É hora de revermos onde o direito penal do controle nos levou, onde a violência nos levou, onde as ilegalidades nos levaram. É hora de você que vive a vociferar raivosamente soluções violentas, que abona comportamentos ilegais (desde que direcionados a minorias e excluídos) reveja seu ponto de vista. Cuidado ao alimentar um Estado repressor, mais dia, menos dia ele vai se alimentar de você.

terça-feira, 4 de março de 2014


SUPEREGOS AMEDRONTADOS E A BOMBA DO REAL

arte: rubens jr



- Eu vejo superegos fragilizados em busca de um bode expiatório!
- Com que frequência?
- A todo o momento, no face e na vida cotidiana.

A cada dia que passa, a legião de superegos amedrontados, apequenados, acovardados vagam a procura de um bode expiatório para conter os impulsos de seu ID. A cada "bandido bom é bandido morto", "leva para Casa" e "cidadão de bem", fica mais claro a necessidade que alguns têm de tentar reafirmar a si mesmo certos valores por meio de comportamentos violentos dirigidos, geralmente, a terceiros em situação de vulnerabilidade. O ódio, a intolerância, a busca pela saída violenta nada mais é que um mecanismo para tentarmos perpetuar (ou salvar) a imagem saudável (e ilusória) que temos de nós mesmos. Quando essa mascara é revelada, todo argumento rui. Tenho medo de superegos acuados e egos superestimados. Agir pelo bem, foi a motivação de todas as guerras, genocídios e opressões. O discurso dualista pode confortar vários. Mas me amedronta.