domingo, 7 de junho de 2015

QUAL O MUNDO QUEREMOS PARA NOSSOS FILHOS?




Em um determinado shopping, de determinada cidade me deparei com o brinquedo desta foto.

O fato que me espantou foi verificar em pleno século XXI que ainda temos brinquedos infantis, com objetivos bélicos e de abater alvos.
Para minha surpresa ao verificar tal mimo, descobri que os "alvos" eram em sua maioria índios.
Nem vou entrar no mérito da 
"americanização" dos brinquedos de nossas crianças.
Mas o que mais me intrigou não foi a surrealidade do brinquedo, totalmente desconectado com as modernas maneiras de se tratar as atividades lúdicas para crianças.
Mas foram os pais que vi, incentivando seus filhos a atirarem nos "alvos estigmatizados", com frases como "mata filho" "você deixou aquele em pé".
Sinceramente, esse é o mundo que queremos para nossos filhos?
não pode ser...
Quero um mundo onde os brinquedos sejam incentivadores de amor. Quero um filho amoroso, solidário.
Meu filho não tem que aprender a "ser homem", mas sim aprender que violência não é um brincadeira, nem uma opção, que cozinha não é lugar de mulher, que ele pode chorar o quanto quiser.
Em um mundo cinza e sombrio que desponta nestes anos, o fascismo parece uma questão quase hereditária, passando de pais reacionários para crianças cada vez menos acostumadas ao amor.
Quero menos cavalos encelados, revolveres apontados e índios mortos nos parques, nos desenhos.

Quem sabe o mundo dos nossos filhos não será de menos preconceitos, violência e dor.


Já fracassamos com o nosso mundo...
Será justo fracassar com o futuro mundo deles também?
CRÔNICA DIÁRIA SOBRE A MAIORIDADE PENAL


arte: Latuff

Ontem, em uma certa cidade, dois meninos (de 14 e 12 anos) foram presos pela polícia e estão ainda presos. O motivo: ter furtado uma sprite (com prazo de validade já vencido) e algumas frutas. Detalhe: tal furto ocorreu dentro de uma caçamba de lixo (!!!???), a perdição se deu por tal caçamba estar em um terreno de propriedade privada (digo terreno mesmo, não era uma casa habitada, nem mesmo um sítio). Os vizinhos chamaram a polícia ao verem estes dois "perigosos meliantes" retirando coisas da caçamba. 

A polícia os abordou com truculência leve (quase um elogio no Brasil hoje) e os dois encontram-se hoje presos com o aval do Juiz responsável.


Detalhe 2: Os meninos, descobriu-se, eram paupérrimos, além de negros (o que é óbvio em nossa sistemática racista) e não entendiam o caráter de periculosidade de sua ação (!!!????).

Sinceramente, não é crível que o judiciário compactue com toda essa opressão, estigmatização e massacre a vulneráveis. 

Não consigo crer que apenas um dúzia de pessoa encontra na ação citada motivos para desacreditar de toda a Constituição Federal e todo Estado Democrático de Direito. Enquanto a maioria acha tal ação correta, do ponto de vista positivo e legalista.

Não é possível que a mediocridade das pessoas chega ao ponto de se contentarem com a eficácia normativa do Direito Penal frente a esperança de um mundo mais solidário, mais leve, mais focado na subjetividade de cada um e não em sutilezas legais.


O que ocorreu nesta cidade é uma prova clara que perdemos nossa humanidade, perdemos toda e qualquer chance de alteridade.

Por um pretenso medo de inimigos (por vezes imagináveis) estamos a corroborar com todo e qualquer tipo de violência frente a quem menos pode-se se defender. 
Nosso sentimento de segurança quer se perpetuar sobre os ossos de todo e qualquer vulnerável e bode expiatório.

A covardia se aclara ao percebemos que o alvo de nossa sanha legalista é sempre quem menos pode contra nós. 
Caso tais meninos fossem ricos e brancos, tudo não passaria de uma mera brincadeira de criança, mas como não são, o futuro destes meninos é continuarem presos mais algum tempo, apenas para aprenderem o que é certo(!!???).

O certo e o errado não transitam por estradas claras e bem definidas em nossa sociedade, pelo contrário eles são interpretados de maneira tendenciosa por quem detém o poder.

Estes meninos são meros bodes expiatórios, mas tem outro importante papel, nos lembrar como somos pequenos e qual o tamanho de nossa mediocridade frente a vida