sábado, 13 de outubro de 2018


O EFEITO LÚCIFER E SUAS CRÍTICAS



O EXPERIMENTO


Caso você ainda não saiba sobre o que é o efeito lúcifer:


O pesquisador Zimbardo descreve seu experimento da seguinte maneira:

TED - Zimbardo: Efeito Lúcifer e como as pessoas boas se tornam más. PARTE I 


TED - Zimbardo: Efeito Lúcifer e como as pessoas boas se tornam más. PARTE II 


  
AS CRÍTICAS


A partir de 2018 o experimento Lúcifer começou a ser questionado, principalmente, pelo blogueiro Ben Blum que partiu de declarações de participantes do evento e também de gravações da experiência para recriminar as metodologias praticadas à época. Juntamente com estas críticas ainda em 2018 o economista Le Texier (2018) também apresentou sérias censuras à pesquisa do psicólogo Zimbardo. ver o blog de BEN BLUM aqui
Uma das principais afirmações destes pesquisadores reside no fato que os carcereiros não agiram de maneira espontânea, mas sim foram orientados a serem violentos. Ainda dentre as acusações, apontam que os carcereiros se reuniram antes com Zimbardo e receberam uma lista de condutas (o que desconfiguraria o experimento), parte delas retiradas de um estudo análogo feito meses antes pelo auxiliar de Zimbardo, David Jaffe.
Tais orientações consistiam em uma rotina de humilhações, e os policiais que não estivessem sendo suficientemente duros eram aconselhados a intensificar sua conduta. Blum defende que este comportamento influenciou de maneira demasiada às ações dos guardas.
Le Texier (2018) vai além e afirma que o experimento foi uma farsa. Além disso, assegura que o efeito lúcifer carece de cientificidade, pois não houve revisão de pares, tampouco a descrição dos materiais e métodos utilizados no experimento de maneira consolidada pela ciência.  Ou seja, o autor coloca em dúvida os parâmetros epistemológicos da pesquisa, assinalando que outros autores já haviam deixado claro (antes de Zimbardo) que o ambiente prisional seria complexo e a relação entre prisioneiros e guardas era no mínimo ambígua e marcada pela informalidade (LE TEXIER, 2018).
Ambas as afirmações foram baseadas principalmente no depoimento de David Eshleman, um dos voluntários que assumiu o papel de carcereiro no estudo de Zimbardo. Este sujeito, aliás, confidenciou que sempre esteve ciente que era um experimento. Le Texier não encontrou nos documentos de Philip Zimbardo bases consistentes que comprovassem que os atos dos carcereiros fossem acentuadamente opostos ao comportamento dos presos (LE TEXIER, 2018).
Uma das acusações mais impactantes de Blum diz respeito ao icônico prisioneiro 8612: Doug Korpi. Este afirma que fingiu todo o seu colapso emocional. Devemos, neste ponto, lembrar que Blum se esqueceu de falar que Korpi vem mudando costumeiramente suas versões a respeito do experimento ao longo dos anos.
Blum acrescenta ainda que nenhuma pesquisa posterior conseguiu comprovar as afirmações de Zimbardo (citando inclusive um experimento feito para a TV). Neste aspecto devemos lembrar que é inegável que os parâmetros científicos da atualidade inibem que o experimento original (feito ainda nos anos de 1970) seja efetivamente repetido em todos seus pontos.
Entretanto Blum não citou uma pesquisa australiana que se inspirou em grande parte na experiência prisional de Stanford, chegando a conclusões muito próximas ao experimento original. Inclusive relativa à violência perpetrada pelos guardas. (LOVIBOND, MITHIRAN, ADAMS, 1979)[1].
Blum ainda critica a participação de Zimbardo junto ao Congresso americano e questiona às conclusões a que chegou o pesquisador relativas à falência do sistema prisional. O blogueiro deixa claro que o discurso agradou alguns políticos liberais americanos. Mas não citou que em outros locais pelo mundo experimentos como o efeito lúcifer auxiliaram a criar ambientes menos hostis para os presos e também aos guardas.
Aliás, a crítica às prisões nunca foi exclusividade de Zimbardo, pelo contrário, através dos séculos os criminólogos denunciam as mazelas de tal sistema. Não há como não considerar outros estudos bem mais impactantes como Goffman (2005) relativos às instituições totais e Foucault (1984) frente à dicotomia vigiar e punir.
Em outro ponto, Blum acerta ao levantar a questão racial frente ao experimento de Stanford. Uma vez que em nenhum momento a tensão racial foi devidamente tratada pelos pesquisadores.
Zimbardo se manifestou publicamente sobre cada uma das críticas recebidas e apresentou uma série de argumentos visando desconstruir principalmente as afirmações de Blum. Entre os argumentos do pesquisador de Stanford os que mais se destacam são sua afirmação que houve realmente um pedido para que alguns guardas fossem mais duros, uma vez que não estavam levando o experimento a sério.
Neste sentido Zimbardo (2018, p. 1)afirma:

Apesar do pedido feito por David Jaffee, nenhum dos guardas se comportou de maneira dominante durante os dois primeiros turnos. O que fez a diferença foi que no segundo dia os prisioneiros se rebelaram a partir de confrontos verbais e físicos desafiando os guardas. Depois que os guardas acabaram com essa rebelião, um deles declarou que os prisioneiros eram "perigosos" e, com essa nova visão da situação, vários guardas se tornaram muito mais duros em suas ações.

O pesquisador de Stanford ainda é categórico ao afirmar que sempre houve diferenças significativas na conduta dos guardas da prisão e que tal fato comprova que os sujeitos que agiram com maior violência o fizeram por conta própria.
Sobre o carcereiro Ashleman a afirmação é que o próprio já havia afirmado, em outras ocasiões, que representava um papel o que, definitivamente, não apaga todas as humilhações que este seu personagem fez os presos passarem.
Zimbardo (2018. p. 1) resume:

Nesta resposta aos meus críticos, afirmo que nenhuma dessas críticas apresenta qualquer evidência substancial que altere a principal conclusão do Experimento Efeito Lúcifer sobre a importância de entender como as forças sistêmicas e situacionais podem operar para influenciar o comportamento individual em direções negativas ou positivas, muitas vezes sem a nossa consciência pessoal. 

Na verdade podemos afirmar que o experimento de Zimbardo é controverso e criticado principalmente pela sua condução equivocada. Mas, um dos principais alvos que merecem crítica são suas conclusões pessoais e por vezes duvidosas dos acontecimentos em Stanford.
No entanto, as críticas atuais não inviabilizam grande parte das pesquisas do psicólogo de Stanford. Apenas deixam claro que o efeito lúcifer deve ser refletido em conjunto com outros experimentos como a Onda, Milgram, questões filosóficas como a Banalidade do Mal, questões práticas como a prisão de Abu Ghraib e outros estudos que analisam como o comportamento humano está sujeito a uma gama de fatores e causas para a sua exteriorização. 
Não se pode interpretar o efeito lúcifer sem limitá-lo e localizá-lo. Portanto, o poder, a hierarquia não serão capazes de corromper todos os indivíduos sujeitos as mesmas condições. Aliás, outros pesquisadores (como Milgram ou Fried) já haviam sedimentado o juízo que os fatores externos vão condicionar grande parte do grupo, mas não sua totalidade e de formas diferentes.
O problema é que ninguém de nós pode afirmar (de antemão) que não faz parte do grupo que adere a violência, até sermos colocados nas chamadas “condições extremas”. Ademais, tampouco sabemos qual é nosso limite frente a essas condições. Assim, parece que (quase) todos nós temos um limite, apenas não conhecemos qual. O comportamento é complexo e exatamente devido a isso não devemos esquecer que todo e qualquer indivíduo pode tomar atitudes e condutas violentas[2].

TRAILER de uma das produções que tentam descrever o experimento.



ALTHAUS, Virginie. Thibault Le Texier, Histoire d’un mensonge. Enquête sur l’expérience de Stanford. Lectures, 2018.
FOUCAULT, Michael. Vigiar e punir: história de violência nas prisões. Tradução de Ligia Ponde Vassalo. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1984.
GLASER, Daniel. Criminality theories and behavioral images. American Journal of Sociology, v. 61, n. 5, p. 433-444, 1956.
GOFFMAN, E. Manicômios, Prisões e Conventos. 7° edição. São Paulo: Perspectiva, 2005.
HELLIWELL, John F. Institutions as enablers of wellbeing: The Singapore prison case study. International Journal of Wellbeing, v. 1, n. 2, 2011.
LE TEXIER, Thibault. Histoire d'un mensonge: enquête sur l'expérience de Stanford. Zones, 2018
LOVIBOND, S. H.; X. MITHIRAN; ADAMS, W. G. The effects of three experimental prison environments on the behaviour of nonconvict volunteer subjects. Australian Psychologist, v. 14, n. 3, p. 273-287, 1979.
REICHER, Stephen.  HASLAM, Alexander. RATH, RakshiMaking a Virtue of Evil: A FiveStep Social Identity Model of the Development of Collective HateSocial and Personality Psychology Compass2, 3p. 1313-1344, 2008.

ZIMBARDO, Phillip. Statement From Philip Zimbardo. 2018. Disponível em: http://www.prisonexp.org/response/




[1][1] Importante destacar que o experimento de Lovibond acabou por servir para melhorar e otimizar o sistema carcerário de Singapura (HELLIWELL, 2011).
[2] Para que o leitor tire suas próprias conclusões indicamos ler o blog de Blum: https://medium.com/s/trustissues/the-lifespan-of-a-lie-d869212b1f62. E a devida resposta de Zimbardo em: http://www.prisonexp.org/response/.

segunda-feira, 2 de julho de 2018

SERIAL KILLER - CINEMA & REALIDADE*

HOJE: HANNIBAL X DAHMER


HANNIBAL LECTER é um personagem fictício que surgiu nos livros de Thomas Harris em 1981. Em 1991 com o filme "O silêncio dos inocentes" Hannibal ficou conhecido mundialmente (o personagem protagonizou cinco filmes, série e livros). Ao todo foram 23 mortes. Mas o que deixou seu nome marcado não foi a quantidade e sim o canibalismo dentre outras parafilias que apresentou em toda sua trajetória. 

JEFFREY DAHMER ficou conhecido como o canibal de Milwaukee. E matou 17 pessoas oficialmente. Dahmer, que desde criança, apresentou tendência aos atos cruéis com animais de estimação foi preso em 1991 e logo as pessoas o compararam com o personagem famoso dos cinemas. No entanto, Dahmer não parecia gostar de carne humana e em seus depoimentos afirmou que experimentou, mas não gostou tanto.

Nota 1: Na verdade quem inspirou Thomas a criar o personagem Hannibal foi outro homicida, SALAZAR (ou Alfredo Bali Trevino) que era um médico também metódico e sagaz.

Nota 2: Aqui comparamos livremente personagens da ficção com pessoas reais   sem que sejam psicologicamente parecidos.


Filme: Silêncio dos Inocentes 1991



Filme: Silêncio dos inocentes - Diálogo entre Lecter e Starling


Jeffrey Dahmer - entrevista


#terror #horror #movie #cinema #medo #repost #serialkiller #ipebj #rubenscorreiajr 

* Nessa série temos o objetivo de apontar livremente homicidas reais que se assemelharam a personagens homicidas do cinema em algum detalhe (vestimenta, modus operandi, perfil das vítimas, número de vítimas etc). Em nenhum momento temos a pretensão de afirmar que personagens foram inspirados nos casos reais que citamos.  

sábado, 23 de junho de 2018

SERIAL KILLER - CINEMA & REALIDADE*

HOJE PENNYWISE X JOHN GACY





PENNYWISE é um personagem ficcional da literatura de terror de Stephen King (do livro It - Uma obra prima do medo). Foi o antagonista também dos filmes homônimos de 1990 (Dir. Tommy Lee Wallace) e 2017 (Dir. Andy Muschietti). 
Nos livros Pennywise é uma criatura sobrenatural, uma representação do mal, geralmente na imagem de um palhaço utilizado para atrair suas vítimas. O personagem se alimenta do medo principalmente das crianças (nos livros sua mitologia é bem mais complexa e remonta a 1715). E chegou a matar nove pessoas (número polêmico, mas baseado apenas nas mortes diretas do cinema). 

JOHN WAYNE GACY foi um cidadão americano acima de qualquer suspeita. Empresário, casado, influente e popular. John gostava de se vestir de palhaço e se apresentar para crianças, elas o adoravam. Por trás dessa máscara se escondia um homicida sádico que tortura jovens rapazes em sua casa, sodomizava-os e enterrava na sua própria casa. De dia animava crianças e a noite saia para caçar homens jovens  pela cidade.o29 mortes foram causadas pelo "palhaço assassino" da vida real.

Versão 2017 - IT - A COISA



VERSÃO 1990 - IT - OBRA PRIMA DO MEDO



#it #pennywise #stephenking #terror #horror #movie #cinema #medo #repost #serialkiller #ipebj #rubenscorreiajr 

* Nessa série temos o objetivo de apontar livremente homicidas reais que se assemelharam a personagens homicidas do cinema em algum detalhe (vestimenta, modus operandi, perfil das vítimas, número de vítimas etc). Em nenhum momento temos a pretensão de afirmar que personagens foram inspirados nos casos reais que citamos.  

sexta-feira, 4 de maio de 2018

THANOS É UM PSICOPATA?

VINGADORES GUERRA INFINITA



[possível SPOILER]

THANOS (aqui falaremos apenas de sua representação no universo Marvel e não no intricado mundo dos quadrinhos) é um ser híbrido que apresenta imensos poderes mesmo sem a (já) famosa Manopla do infinito. Chamado por alguns de Titã louco foi criado em 1973. 

Muitos nestes últimos dias se referiram ao personagem como o maior piscopata já apresentado neste universo de super heróis. 
No entanto, o complexo personagem apresentado não parece padecer de psicopatia. E isso não faz dele uma pessoa menos nociva. Pelo contrário, Thanos parece um "homem" de ambições bem características e comuns. (Seu prazer não se edifica por quebrar as regras).

Em nenhum momento parece compreender que existam falhas em suas justificativas. O Titã parte de um artifício característico e antigo pautado no velho determinismo (Stuart Mill) e explicitado dilema do trem (onde posso matar alguém se for para salvar várias outras-Joshua Greene). Ou seja, a moral está na consequência do seu ato (e não no ato em si).

Essa parábola é bem representada pelo antagonista que repete a todo momento a explicação que matará metade da população (universal) simplesmente porque acredita que a fome e a miséria são fatores matemáticos e lineares e acabarão (ele desconsidera, por exemplo, que a miséria também é fruto de um desequilíbrio no sistema econômico).

O personagem do filme demonstra sentimentos antagônicos como o amor pela filha e também o sentimento de dever cumprido depois que vê seu plano concretizado (será?!?).

Thanos é, sem dúvida, um megalomaníaco apaixonado pelo poder, mas um personagem complexo. Entretanto, o que o deixa incontrolável é o fato dele parecer se colocar como um messiânico Salvador, como o mal injusto, mas necessário, às vezes como um mártir.

E mártir não tem porque hesitar...porque parar....

Para aqueles que os fins justificam os meios, as vidas sacrificadas são meros objetos em uma conta simplista matemática. 
Parece estranho, mas hoje muitos, no fundo, pensam como o Thanos.



quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

SERIAL KILLER/HOMICIDAS EM SÉRIE
LIVRO A SER PUBLICADO AINDA ESTE ANO


VOCÊ SABIA O QUE É COPY KILLER?


Trecho retirado do nosso futuro livro sobre o tema. Aguardem.