quinta-feira, 10 de abril de 2014


CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM CRIMINOLOGIA

FAÇA JÁ SUA MATRÍCULA

Um curso transdisciplinar que estuda a Criminologia em todos seus enfoques, da sociologia, passando pela psiquiatria, antropologia, psicanálise, direito e psicologia. Vendo o crime como uma construção da sociedade, interpretando o fato típico em um prisma multifatorial. Analisando o estigma e a rotulação de sujeitos, assim como fazendo uma crítica a engrenagem de controle perpetuada pelo Estado. Enfim, dando ênfase a sociedade criminógena, e o sujeito como fruto dessa sociedade.




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domingo, 23 de março de 2014


EU SOU CLÁUDIA SILVA FERREIRA


Arte: Rubens Jr




Hoje eu sou Cláudia Silva Ferreira. Como ontem fui um policial morto, um negro anônimo morto, um homossexual, um índio... Como fui e continuo sendo um Amarildo. Pobres excluídos que continuam a morrer em uma guerra que somente alguns lucram.


Mas hoje, meu discurso não muda. Não vou pedir que torturem os policiais que ceifaram a vida de Cláudia, nem mesmo vou pedir pena de morte àqueles policiais que se utilizam de tortura. Não acredito que diminuir a idade penal dos policiais também resolva(entenda, isso foi uma ironia).

Também não vou dualizar petulantemente dizendo que estou do lado do bem e estes soldados do lado do mal. Pois não acredito e nem vou acreditar que o maniqueísmo possa dar alguma resposta.

Continuo sem pedir mudanças emergenciais e populescas para problemas que são conjecturais e sistêmicos. A morte de Cláudia deve servir para uma reflexão daqueles que encontram na força e opressão a solução para uma sociedade desequilibrada. Os policiais que, abominavelmente, torturaram devem sim responder de maneira constitucional e serem responsabilizados pelo ato. Não deve-se esquecer. Mas punir apenas estes soldados e não enxergar que o problema é bem maior, de nada vai adiantar. Será corroborar com o ato, incentivar que ele continue sempre acontecendo e contra os mesmos despossuídos. 

É hora de revermos onde o direito penal do controle nos levou, onde a violência nos levou, onde as ilegalidades nos levaram. É hora de você que vive a vociferar raivosamente soluções violentas, que abona comportamentos ilegais (desde que direcionados a minorias e excluídos) reveja seu ponto de vista. Cuidado ao alimentar um Estado repressor, mais dia, menos dia ele vai se alimentar de você.

terça-feira, 4 de março de 2014


SUPEREGOS AMEDRONTADOS E A BOMBA DO REAL

arte: rubens jr



- Eu vejo superegos fragilizados em busca de um bode expiatório!
- Com que frequência?
- A todo o momento, no face e na vida cotidiana.

A cada dia que passa, a legião de superegos amedrontados, apequenados, acovardados vagam a procura de um bode expiatório para conter os impulsos de seu ID. A cada "bandido bom é bandido morto", "leva para Casa" e "cidadão de bem", fica mais claro a necessidade que alguns têm de tentar reafirmar a si mesmo certos valores por meio de comportamentos violentos dirigidos, geralmente, a terceiros em situação de vulnerabilidade. O ódio, a intolerância, a busca pela saída violenta nada mais é que um mecanismo para tentarmos perpetuar (ou salvar) a imagem saudável (e ilusória) que temos de nós mesmos. Quando essa mascara é revelada, todo argumento rui. Tenho medo de superegos acuados e egos superestimados. Agir pelo bem, foi a motivação de todas as guerras, genocídios e opressões. O discurso dualista pode confortar vários. Mas me amedronta.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

PEDRINHAS E NOSSO SISTEMA CARCERÁRIO BRUTALIZANTE, VIL E IMPIEDOSO COM OS POBRES.


Arte: Rubens Jr.

“O presídio de pedrinhas é a consequência lógica do nosso Direito Penal segregador e higienizador”



J.U: Professor Rubens, o que houve em Pedrinhas é um caso isolado?

R.C.J: Não. É mais comum do que supomos. A decapitação é comum em alguns estabelecimentos e até mesmo o canibalismo já foi relatado. Infelizmente o que houve em Pedrinhas é apenas a consequência lógica do nosso Direito Penal segregador e higienizador. De políticas públicas de punição máxima direcionada a apenas uma parcela da sociedade, ao total descaso do poder público e principalmente a miopia da sociedade para o sistema carcerário.

J.U: Como assim miopia da sociedade?

R.C.J: Quando falamos em sistema carcerário e suas mazelas a sociedade tende a não se manifestar e não se indignar, pelo contrário apoia os movimentos de punibilização máxima e até incentiva as ações violentas e ilegais. Como quem está preso faz parte de um nicho social desimportante e incômodo, fingimos que o problema não existe. É uma miopia por que de longe não enxergamos o problema, somente olhamos para ele quando está próximo de nós, quando nos atinge. Como no caso de Pedrinhas.

J.U: Qual é a real situação do Sistema Carcerário Hoje?

R.C.J: Caótica, falida, em colapso. Qualquer adjetivo seria insuficiente para explicar aos leitores. Estamos hoje com mais de meio milhão de presos. Não temos lugar para eles. Temos 43% (dados otimistas) além de nossa capacidade. O número de presos cresce exponencialmente, 30% nos últimos anos. Para piorar quase metade de nossos presos ainda são provisórios, ou seja, não foram condenados em definitivo (na década de 1980 eram 15% do total). Uma pesquisa no Estado do Rio concluiu que apenas 37% destes presos serão condenados a uma pena efetiva de prisão. Ou seja, são prisões ilegais, geralmente de quem nem mesmo tem advogado. Dentro das prisões não se tem investimentos em trabalho, comida minimamente digna ou respeito à pessoa. Em alguns estabelecimentos as visitas íntimas são feitas no meio dos pavilhões, na frente de todos. De cada cinco presos um tem HIV. Sem contar a tuberculose. A situação é ruim para todos que fazem parte deste universo presos e os funcionários que lá trabalham sem treinamento, em situações insalubres e ganhando mal. O Brasil é um dos países onde mais se morre nas prisões. E quando mais aumentamos as prisões, mais a sociedade tem a sensação de insegurança. Portanto, essa banalização das prisões não vem trazendo soluções específicas.

J.U: Se temos tantas prisões, por que não se diminui a violência?

R.C.J: Por que a sociedade ainda não aprendeu uma verdade basilar: que a motivação ideológica da prisão não é prender aquele que transgride regras, mas sim afastar da sociedade uma selecionada e bem definida parcela da sociedade. Para confirmar isso, basta entrar em uma penitenciária e procurar por alguém, branco, de classe média, com ensino superior. Fatalmente não vai achar, embora todos cometam crimes. Por exemplo: hoje no Brasil apenas 1% dos presos tem ensino superior incompleto ou completo. Enquanto a média de pessoas com ensino superior completo no Brasil chega a 7,9%, se formos contar o ensino superior incompleto chegamos a 11%. (IBGE). Ou seja, determinada parcela da sociedade não vai ser presa, independente do que vier a cometer. Os presos são pessoas de baixa escolaridade, de nichos paupérrimos da sociedade, pardos e negros. E geralmente com crimes de pouco impacto. Crimes contra o patrimônio (furto simples, furto qualificado) ou tráfico de quantidades irrisórias (a maioria presa por tráfico transportava menos de 1 kg. Com mais de 100kg nem mesmo aparece nas estatísticas. Com 450kg menos ainda.).

J.U: Deve-se investir em mais prisões?

R.C.J: O foco não é investir mais em prisões. Afinal como tudo que expus aqui, o problema não é prender mais e mais. A solução está exatamente em rever o direito penal, rever quem está sendo preso, rever os efeitos que a prisão traz na vida do indivíduo e da sociedade. Mas a população vê com desconfiança o político que queira descontruir essa política de punição máxima. O que todos não conseguem entender, é que ao melhorar a situação dos presos e investir na desprisionização, a longo prazo, isso refletirá na sociedade e na violência. Do contrário, nunca conseguiremos reverter o quadro atual da sociedade.

J.U: Qual o efeito direto de uma prisão violenta na sociedade?

R.C.J: A população respalda as ações violentas contra presos, incentiva por vezes torturas e ações sem o devido processo legal. Depois quando essa situação se reverte em uma sociedade mais violenta, todos se perguntam por que. Não aprendemos em nada com os erros do passado. O sistema carcerário e sua condição foi responsável direto pela formação do Comando Vermelho no início da década de 80 e do PCC na década de 1990. A população talvez não saiba, mas a formação da mais famosa organização criminosa no Brasil se deu dentro dos presídios. Mais especificamente em um dos piores presídios do Brasil na época. Famoso presídio no Rio de Janeiro, conhecido pelas mortes, estupros e comércio de drogas. Foi lá que nasceu o comando vermelho, que tinha como objetivo inicial a proteção da massa carcerária contra abusos, a união contra as torturas e crueldades. Somente depois que essa razão inicial foi perdendo força e o movimento ganhou as ruas também. Já o PCC além de ter uma grande influência do próprio CV, foi catapultado pelo massacre do Carandiru, que deu subsídio ao fortalecimento da entidade. Sem me alongar no tema, que envolve erros do governo ditatorial, intelectuais presos nos anos de chumbo e pífias políticas de segurança pública, deve-se entender que, o que acontece em uma prisão reflete automaticamente nas ruas. Assim, uma prisão violenta gera mais violência.

J.U: Afinal de quem é a culpa?

R.C.J: Não podemos apontar um culpado somente, a culpa deve ser pulverizada,. Todos são culpados. A população que incentiva essas ações violentas; O judiciário que condena sem o contraditório e ampla defesa; Os governantes que se omitem, que não apresentam projetos, que não utilizam de maneira correta as verbas recebidas, que preferem não destinar toda a verba do fundo penitenciário almejando um superávit em sua balança, que em nome de votos acaba por preterir melhores políticas públicas penitenciárias; o MP que se omite; a OAB; Os advogados; O legislativo que infla a legislação penal, sem ouvir os especialistas, sem analisar as consequências e visando apenas o voto. Enfim, todos nós somos cumplices nas decapitações ocorridas em pedrinhas ou em qualquer prisão no Brasil.

arte: LATUFF

Entrevista exibida em fevereiro de 2014 em jornal impresso. Para ver a reportagem original clique AQUI

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

ROMÁRIO, PRECONCEITO E A BELEZA TRANS.






Romário, perdeu uma boa oportunidade de iniciar uma luta verdadeira e direta contra o preconceito TRANS e pela aceitação REAL do outro. Poderia ter tratado do tema, longe dos estigmas e da mera rotulação. 

Gol contra, mergulhado na construção homofóbica que nossa sociedade impõe. Que condena transexuais a viverem a margem da sociedade, sendo alvo de chacotas e não tendo sua identidade de gênero respeitada.

Ser homem Romário, é mais do que gostar de mulher, é saber reconhecer uma mulher em sua plenitude. É saber que ninguém nasce mulher, torna-se mulher (Simone de Beauvoir).

Ser mulher ou homem Romário, vai além do falo, ou uma construção social e física. É também uma escolha, uma singeleza....o mundo seria mais bonito se respeitássemos todas as mulheres e homens independente do sexo destes. Genital Romário, não define o gênero.

Para ver as declarações de Romário: CLIQUE AQUI


domingo, 13 de outubro de 2013

NOSSA AGENDA NAS PRÓXIMAS SEMANAS


18/10 - Aulas para a pós de Direito Público - UNIT/SE

19/10 Aulas para a pós de Direito Público - UNIT/SE


02/11 - Aulas na pós de Criminal Profiling - IPEBJ/SP


09/11 - Palestra sobre "Direitos Humanos, estigmatização e controle" - UPOP - Uberaba/MG


15/11 - Aulas na pós de Ciências Criminais - IPEBJ/SP
16/11 - Aulas na pós de Ciências Criminais - IPEBJ/SP


22/11 - Aulas para a pós de Direito Público - UNIT/SE
23/11 - Aulas para a pós de Direito Público - UNIT/SE


28/11 - V Simpósio Forense - organização - Ribeirão Preto/SP
29/11 - V Simpósio Forense - Palestra e debate - Ribeirão Preto/SP
30/11 V Simpósio Forense - organização - Ribeirão Preto/SP



06/12 - Aulas para a pós de Direito Público - UNIT/SE
07/12 - Aulas para a pós de Direito Público - UNIT/SE


14/12 - Aulas na pós de Psicologia Jurídica - IPEBJ/SP

domingo, 29 de setembro de 2013

FÓRUM NOVAS POLÍTICAS SOBRE DROGAS É POSSÍVEL?




Dia 26 e 27 de setembro debatemos e discutimos algumas possibilidades a respeito das políticas públicas em relação as drogas.

Muito foi discutindo no sentido de desconstruir o velho discurso pronto e situado no lugar comum.

As internações involuntárias como política pública central (e como um dos recursos principais na luta contra as drogas) foram questionadas, ressaltando a importância do investimento no laço social, na responsabilização da sociedade, no empoderamento do sujeito e na mudança de perspectiva ao olhar o usuário de drogas como protagonista frente a substância utilizada.

Ademais, a guerra às drogas sofreu duras críticas por parte de todos os debatedores, com ênfase no número de mortes que as atuais políticas bélicas e populistas vem causando no mundo todo. Foi ressaltado, que não se trata de liberação ou não de drogas ilícitas, mas sim de sua regulamentação, uma vez que o acesso é facilitado a qualquer substância no Brasil, não havendo efetiva proibição, mas sim uma construção segregacionista e direcionada a determinada parcela da sociedade.

Neste sentido, o fórum deixa claro que urge deixarmos o discurso moralista e hipócrita da guerra às drogas e começar a ver o problema de frente, despido de preconceito e com o foco no sujeito e na democratização de oportunidades e inserção social.

A estigmatização dos usuários e a perspectiva dualista (BEM X MAL) com que olhamos os problemas de drogas foi alvo de duras críticas durante o evento, deixando claro que não pode existir políticas de saúde no campo das drogas que parta de uma visão segregadora, diferenciadora e econômica.

Enquanto não nos livrarmos das medidas higienistas e de profilaxia não avançaremos nas políticas voltadas aos drogodependentes ou qualquer outra política social.

Não há epidemia de crack, existe sim uma epidemia de falso moralismo, tradicionalismo, preconceito e desamparo a toda classe de excluídos em nossa sociedade.

A batalha travada contra as drogas é uma batalha ideológica e assim deve ser combatida.

A cada dia que nos omitimos ou permitimos medidas opressoras e inconstitucionais contra um cidadão, enfraquecemos a democracia e arranhamos nossos próprios direitos e garantias fundamentais.

Preterir determinados sujeitos, para patrocinar a integração social pelo medo e pela eleição de inimigos públicos frágeis e desemparados e também proteger os interesses particulares e econômicos de determinadas classes parece ser o equivocado caminho que o Brasil tende a traçar com projetos de leis referentes a drogas. 

Enquanto não tivermos leis e políticas que garantam a redução de danos, que considerem o problema de drogas um problema de saúde, não permitam normas que limitem ou massacrem os direitos humanos e a dignidade social, nunca conseguiremos oportunizar a todos o direito de viver em uma sociedade justa e acolhedora. 

Pelo contrário, com segregação, estigmatização e rotulação patrocinamos a cada dia uma sociedade violenta e desigual, enquanto fechamos os olhos para uma guerra que derrama o sangue dos negros, pobres e desfavorecidos, reclamamos da violência que bate a nossa porta.

Nos preocupamos com o futuro de nosso filhos e nossa segurança, mas não nos preocupamos com as pessoas invisíveis, miseráveis e excluídas que somente ganham importância e visibilidade se lesionam nosso patrimônio ou quando estragam o cenário urbano de uma grande metrópole.

Enquanto penas aumentam, internações involuntárias são respaldadas por lei e mais substâncias ganham status de ilícitas, os invisíveis continuam morrendo na contra-mão e atrapalhando o tráfego, o público e o sábado.

Nada muda na política de drogas, pois apenas os desfavorecidos sofrem e morrem.

Mas enfim, esperamos que a paz derradeira venha nos redimir, de todos os equívocos que cometemos sob os auspícios de ajudar os dependentes de drogas...

Você pode se manter omisso por muito tempo...

mas não para sempre....

que Deus lhe pague....


Da esquerda para direita Rosemeire Aparecida da Silva, Flávia Fernando Lima Silva, Aldo ZaidenBenvindo, Odila Braga, Orlando Zaccone D'elia Filho, Rubens Correia Junior

sexta-feira, 14 de junho de 2013


                            NOVOS ANOS REBELDES

ONDE VINAGRE É ARMA
ONDE JORNALISTA É TERRORISTA
ONDE MANIFESTAÇÃO É BADERNA



Revendo uma antiga série: "anos rebeldes" e percebendo que os anos de chumbo estão mais atuais, mais viscerais e mais surreais do que nunca. Calar e se sujeitar não é uma opção. Temos mais do que vinagre como arma, temos a certeza do que o que vivemos hoje é insuportável. O simbólico já não pode satisfazer, e o Real deve ser confrontado. Vamos fugir do lugar comum, vamos preferir a angústia de lutar, ao invés da passividade de aceitar os abusos e o controle do Estado. 

Não é uma escolha pessoal, é um imperativo! 

Tempo de tomada de decisões, de escolher que lado estamos. 

Não é só uma passagem, não é só 20 centavos. Não diminua nossa luta, veja além, sinta as cercas, os limites e a censura atrás de você. 


domingo, 9 de junho de 2013

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL - AINDA HÁ O QUE DISCUTIR?



ENTREVISTA À RADIO SOBRE MAIORIDADE PENAL - RUBENS CORREIA JR E TAMBÉM O ADVOGADO PENALISTA LEUCES TEIXEIRA.

ENTREVISTA NA ÍNTEGRA COM ALGUMAS CORREÇÕES E ATUALIZAÇÕES DOS DADOS VINCULADOS.

O programa JM Mulher, que foi ao ar no dia 1º de junho na Rádio JM -AM 730kHz, discutiu polêmico assunto que tem tomado o pensamento e as conversas da população. A redução da maioridade penal, embora ainda não tenha se tornado projeto de lei, está em pauta na Assembleia Legislativa de São Paulo, onde houve uma audiência pública por iniciativa da deputada estadual Beth Sahão, que é contrária à redução. Essa questão foi levantada no Estado vizinho porque o governador Geraldo Alckmin propôs mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ao afirmar ser favorável à redução da maioridade penal.

Em muitos países, o indivíduo abaixo da maioridade penal está sujeito, a partir de certa idade, a punições leves, como advertências, atividades socioeducativas, trabalhos sociais, acompanhamento social ou psicológico, detenções e, em alguns casos, internações em instituições correcionais ou reformatórios. Existem ainda situações, conforme tribunais e varas de Justiça, que são específicos para o encaminhamento de acusações contra menores de 18 anos. De qualquer forma, a maioridade penal não coincide necessariamente com a maioridade civil, nem com as idades mínimas necessárias para votar, dirigir, trabalhar e casar. É aí que talvez more a questão que intriga brasileiros.

O Jornal da Manhã traz na edição de hoje o fórum realizado no programa que contou com a participação de formadores de opinião e a presença do criminólogo e professor Rubens Correia Júnior e do advogado criminalista e professor Leuces Teixeira de Araújo. 

Rádio JM – Qual a sua opinião sobre a maioridade penal?

Rubens Correia
 Júnior– Como criminólogo e como ser humano e cidadão, sou contrário à redução da maioridade penal. Em primeiro lugar, por motivos estatísticos, acredito que o mundo inteiro não está caminhando para a redução como o Brasil tenta fazer agora. Segundo o Unicef, cerca de 79% dos países adotam 18 anos ou mais. Muitas pessoas reivindicam 14 anos, 12 ou 13 anos, mas há um desconhecimento e má vontade de algumas pessoas no Brasil em passar informações erradas. Quando falo que na Alemanha é 14 anos e na França, 13, não se trata de maioridade penal, e sim de responsabilidade penal, sendo que no Brasil ela é uma das mais duras. Temos uma responsabilidade penal de 12 anos, ou seja, hoje o nosso menor, com essa idade, já pode ser responsabilizado. Ainda na Alemanha, de 18 a 21 anos, ainda há outro estabelecimento de recuperação antes que o indivíduo atinja a maioridade, que é aos 21 anos. 


Em segundo lugar, em 1997, os Estados Unidos, em alguns dos seus estados, tentaram a redução em uma política generalizada, mas ela durou dois anos, porque houve uma explosão de reincidência de menores que eram levados a instituições destinadas a maiores de idade.


Em terceiro lugar, hoje, de cada 100 crimes cometidos por maiores, de sete a 8% são crimes contra a vida. De cada 100 crimes cometidos por menores, 0,6% refere-se a homicídios. Não é comum menores cometerem crimes contra a vida. Além do mais, quando se pega levantamentos feitos em pesquisas científicas, estes estudos apontam: de cada 200 reportagens, 44 têm envolvimento de menores. Há uma diferença entre o que está na reportagem e o que realmente acontece. Até hoje nunca se falou em uma modificação do ECA, ele nunca foi revisto. Há experiências em vários países, de reinserção do menor no seio social de maneira menos brusca. Isso nunca foi tentado no Brasil. Por último, nosso sistema carcerário, com 560 mil presos em 300 mil vagas. Se formos reduzir a maioridade, onde vamos colocar esses menores?


Leuces Teixeira – A questão é complexa. Não é fácil punir em todo lugar no mundo. Punir de que maneira? Só restringir a liberdade basta? A maioria dos discursos a respeito caminha para a restrição da liberdade. O nosso ordenamento prevê uma idade de 18 anos, previsto no nosso Código Penal de 1940, ratificado pela nossa Constituição Federal de 1988. Confesso que algumas vezes fico confuso e até angustiado, porque o discurso de reduzir a maioridade para os 16 anos ou 14 é fácil, dá voto, traz aplausos e elogios. É fácil defender a ideia, pelo simples fato de punir. Concordo que decorreram 73 anos, mas será que esse jovem de 16 anos, lá em 1940, é o mesmo de 2013? Evidentemente que não. Ele pode votar aos 16 anos. A vida é o bem maior de uma pessoa, mas o que me aflige são os crimes violentos perpetrados por garotos que tinham 17 anos, 11 meses e 29 dias, que por uma questão de 24 horas vai deixar de ser punido como um adulto. Preciso rezar muito para mudar esse meu pensamento, mas, em 21 anos de advocacia criminal, já vi coisas que você duvida, ando triste com esse garoto que tem consciência de que com essa idade ele tem passaporte para a criminalidade. Muitas vezes ele o usa para assumir a responsabilidade dos outros. 

Rádio JM – Segundo o coordenador das Promotorias de Infância e Juventude do Triângulo Mineiro, o promotor André Tuma, 10% dos crimes, em geral, são praticados por menores... Qual seria a explicação para o alto índice de crimes cometidos por menores?

RC
 – Contardo Calligaris, um psicanalista que escreve na Folha de S.Paulo, segue um padrão de fixarmos uma idade específica que vai contra critérios médicos, psiquiátricos e psicanalíticos. Tenho que concordar que realmente falta critério melhor, mas nessa área é preciso ver que essa idade poderia ser até maior do que 18 anos, porque o córtex pré-frontal só se forma totalmente aos 25 anos. 


Então, como vamos fazer? Esse argumento pode ser válido tanto para aumentar a idade quanto para diminuir. Sobre a questão da impunidade, no Brasil, temos a impunidade de quem? Porque nossas prisões estão lotadas de negros, pobres e prostitutas, pessoas que não tiveram acesso a ensino. Então, a impunidade serve para quem? Não acredito em impunidade, temos 560 mil presos, é a quarta maior população carcerária do mundo e a terceira maior, se analisarmos o número de presos por 100 mil habitantes. Vejo a impunidade de apenas uma classe. 


Estamos perdendo a cada dia, como fala a psicanalista Fernanda Otoni, a eficácia social. Ninguém teme mais nenhum comportamento criminoso, porque o vizinho vai saber. Acredito que ao diminuir essa idade também estaremos dando carta-branca ao governo de parar com todas as políticas de educação, que já são deficitárias. Podemos votar a partir dos 16 anos, poderemos ser presos a partir dos 16 anos, então, nossos menores também poderão tirar a carteira de motorista?. Para quem não acompanha as estatísticas, os maiores acidentes ocorrem dos 18 aos 21 anos.
 
LT – Quando ouço a palavra impunidade, lembro-me do promotor de Uberaba, Eduardo Pimentel de Figueiredo, que diz que a impunidade é o maior combustível da criminalidade. Não tenho dúvida disso. O Supremo Tribunal Federal tem mais de 120 anos, qual o único político corrupto que o STF já mandou para a cadeia? Está na iminência de mandar os mensaleiros e um deputado federal de Rondônia. Isso também incentiva a criminalidade. A punição só vem de baixo para cima. O problema do sistema prisional são os quatro "Ps": preto, pobre, prostituta e polícia de baixo coturno. Por que o STF nunca mandou um político para a cadeia por crime do colarinho-branco? Temos a lei do crime organizado porque o Estado é desorganizado. Onde se dá o mau exemplo há estragos. Se nós trouxermos a maioridade aos 16, em Uberaba e região, onde vamos colocar esses menores? No antigo Caresami? Não aconselho. Para combater a criminalidade é preciso agir em várias frentes. Para fazer valer o sentimento de que não vale a pena cometer um crime é preciso implantar uma política criminal em, no mínimo, médio prazo.  

Rádio JM – É a primeira vez que o tráfico divide com o roubo o topo da tabela de crimes cometidos por menores de 18 anos... Qual a solução para a criminalidade?

RC
 – A solução da criminalidade não começa pela redução da maioridade penal, essa melhora começa pelos homens públicos. Se tiverem comportamentos mais éticos, se não se entregarem ao tráfico de influência, que, para mim, é muito pior que o tráfico de drogas, e se pararem de praticar nepotismo... Ou seja, essa solução começa também por punir esse homem público que é corrupto, e isso deve ser feito com vereadores, deputados, prefeitos e presidente, votando políticas públicas e lutando pela educação. Hoje o Estado gasta de 
R$1.500,00 a  R$3.000,00 mil por preso,


mas quem conhece o presídio não sabe onde está esse dinheiro e nós também vemos que um aluno do ensino médio custa 0,5 salário mínimo, ou seja, R$300 para educar um menor (valor anual de R$ 2.650,00). 


Alguma coisa está errada nessa matemática. A maioridade não é causa de nada, ela é efeito. Nós, brasileiros, temos a cultura de tratar como bandido exatamente aqueles que pertencem aos quatro "Ps", o pobre e o carente, porque se a pessoa tem dinheiro, não é bandida. 

LT – Chamar os outros de bandido dá muito voto. Costumo dizer em sala de aula que o pobre, quando furta, é ladrão e bandido. O rico, quando furta, é cleptomaníaco, é doente. O pobre, quando mata, é assassino, homicida, violento e cruel, mas o rico, quando mata, é porque tem um distúrbio que tem que ser tratado à luz da medicina. A filha do pobre, quando se prostitui, é puta, e a do rico é excêntrica. Precisamos parar com isso, sem tratar ninguém de forma diferente, porque o crime já está chegando à classe média. No Rio de Janeiro, vemos os filhos da classe média que inclusive têm o seu carro envolvido nos crimes. Essa visão rasteira, que dá voto, eu vejo com perplexidade. Hoje, o criminoso que está lá no presídio está contido, porque o Estado pune de forma mais rasteira do que o crime que ele cometeu, ou seja, o Estado não pune, ele se vinga. Hoje ele está contido, amanhã ele estará contigo na rua e vai à forra.  

Rádio JM – O Estatuto da Criança e do Adolescente não é cumprido como deveria? E em caso de redução na maioridade penal, haveria mudanças no ECA?

RC
 
– A questão dos 18 anos não é nem do ECA, primeiramente é constitucional. É preciso mudar a Constituição, e o ECA nós também vamos mudar. A aplicabilidade dessas mudanças é que nós temos que prever a longo prazo. No resto do mundo não houve nenhum impacto sobre a violência, mas devemos discutir também a sensação de segurança. Essa sensação, com a modificação do ECA, também não vai ser modificada. Quando discutimos o ECA, estamos muito pautados no autor que comete o crime. E as vítimas de estupro de vulnerável, comumente chamado de pedofilia, as vítimas dessa violência pela internet, que ficam à mercê de pessoas buscando um prazer deturpado? Isso também tem que ser revisto no ECA, assim como os maus-tratos, o abandono, o abandono material e até mesmo o abandono social que nem mesmo é tipificado. O ECA tem centenas de artigos e a maioridade trata apenas da questão do menor autor de crime contra quem tem condição financeira. Mas e quando esses menores de 18 anos, da periferia, são vítimas? Não creio num efeito instantâneo da modificação e não vejo uma saída em curto prazo. 

LT – Tenho um chavão que diz "sem educação não há solução", mas não basta apenas investir em educação, é preciso criar políticas que atuem em várias frentes. Onde falta pão, há briga e confusão. Na casa dos meninos nos Estados Unidos, no Canadá e na Islândia não faltam pão e nem educação, são meninos que dominam dois idiomas, mas pegam fuzis, entram em uma escola e matam dezenas de pessoas. Ou seja, o nível educacional é alto, não lhe falta pão, mas com certeza em sua casa há desagregação familiar. Para discutir a criminalidade, como punir e o que fazer, nós também precisamos ver que estamos preocupados com aquela violência que dá visibilidade. Sobre aquele garoto de Conquista que pegou o revólver da Polícia Militar, que matou uma mulher e a filha dela, há quem diga que, na infância, aquele garoto, ainda com idade de 5/6 anos, era retalhado com faca e garfo quente pela própria mãe. O fator que o despertou para a criminalidade estava dentro de casa. É preciso política de educação social para tratar o menor infrator, não deixar faltar pão e tratar essas famílias doentes.

A impunidade é a maior alegação dos favoráveis  

Ilcéa Borba (psicóloga) – Sou a favor da redução da maioridade penal, mas com algumas reflexões. Acredito que a idade não é um fator confiável para ser tomado como referência em algo tão importante, como a pessoa ser punida ou não pelo que faz, já que nós sabemos que a idade é um dado que não tem fator tão preponderante. Uma pessoa vai fazer 16 anos amanhã, hoje ela pode ser condenada, amanhã não. Não vejo consistência. Acredito que a punição deva refletir a transgressão cometida, o erro ou a falta que a pessoa cometeu. O crime hediondo tem que ser punido de forma exemplar. Não concordo que ele não possa ser punido porque não tenha idade para isso. A idade não é critério para a liberação, para a impunidade. Porém, nosso sistema penal está precisando de ampliação, reforma e análises maiores do que a idade penal.
Kaká Se Liga (vereador) – Em minha opinião e também de homem público, sou muito favorável à redução da maioridade penal, por vários fatores. O primeiro deles é que percebemos que o Brasil anda de cabeça para baixo. Nossas leis penais estão defasadas, são de 1940, e não foram atualizadas, enquanto isso a bandidagem cresce. A visão que tenho hoje é que o jovem de 16 e 17 anos é um bandido do bandidão. Ou seja, os grandes traficantes usam justamente o menor para cometer crimes porque a lei o favorece. Sou a favor, porque dessa forma o Brasil começará a engatinhar para resolver seus problemas.
Antônio Lerin (deputado estadual) – Sou a favor da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos, porque o cidadão com essa idade pode decidir o futuro do Brasil, elegendo de vereador a presidente da República, então também pode responder pelos seus atos. Defendo que a redução seja criteriosa, principalmente para crimes hediondos. A partir do momento em que o Congresso Nacional mudar a Constituição com a redução, com certeza irão se dedicar ainda mais para ensinar nossas crianças e os jovens. O que nós não podemos aceitar é ver os jovens de 16 e 17 anos sendo usados por bandidos para fazer tráfico de droga na porta das escolas. Entendo que é preciso fazer um trabalho socioeducativo com as crianças, para que tenham consciência de que, a partir dos 16 anos, elas também responderão pelos seus crimes.
Paulo Piau (prefeito) – Na verdade, não há necessidade absoluta de reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos ou para 14 anos, basta que, ao completar 18 anos, o delinquente responda pelo seu crime, cometido enquanto menor, como se ele fosse maior, mas é claro que hoje o apelo é muito grande. Cerca de 90% da população brasileira acha que a pessoa, sobretudo acima de 16 anos, já tem porte físico e intelectual para responder pelos seus atos e, portanto, talvez, a maneira mais simples de caminhar na direção do não-uso do menor no crime, até para acobertar o menor, seria a redução da maioridade. Eu sou de acordo. Sempre fui contra, mas hoje sou a favor, em função do avanço da criminalidade, sobretudo entre os jovens.

Veja a entrevista original aqui: Entrevista - Jornal da Manhã